A EVOLUÇÃO DA ABSTENÇÃO NÃO FOI TÃO ASSUSTADORA COMO SE PRETENDEU - Se é inquestionável que o valor da abstenção continua elevadíssimo e preocupante, a verdade é que a taxa oficial está afectada pelo aumento de cerca de 1,2 milhões de novos inscritos no recenseamento no estrangeiro. De facto, expurgada dos novos eleitores inscritos no estrangeiro, a abstenção no território nacional diminuiu de 66,1% em 2014 para 65,7%, ou seja, teria baixado 0,4%.
De resto, o número de inscritos continua hiper-inflacionado: não há explicação para termos 9,2 milhões de recenseados no território nacional para uma população de 10,3 milhões. Por outro lado, é de assinalar que a participação de eleitores aumentou cerca de 29 mil em relação a 2014 (de 3,284 milhões para 3,313 milhões).
A VITÓRIA DO PS É INCONTESTÁVEL MAS POUCO EXPRESSIVA EM RELAÇÃO A 2014 - O resultado do PS foi muito exaltado pelos comentadores, mas a verdade é que a distância significativa de 11 pontos percentuais que o separam do PSD serviu para esconder que, afinal, subiu menos de 2% em relação a 2014 (apenas mais cerca de 72 mil votos). Recorde-se que, em 2014 a vitória dita “poucochinha” do PS traduziu uma diferença de apenas 3,8% para a coligação PSD+CDS (31,5% do PS e 27,7% da coligação. Se somarmos os resultados obtidos pelos quatro Partidos ditos de direita democrática (PSD, CDS, Aliança e Iniciativa Liberal) a diferença deste conjunto para o resultado do PS este ano desce para 2,5%.
A DERROTA DO PSD É EVIDENTE, MAS NÃO SE REGISTOU NENHUM DESCALABRO - Em 2014 a coligação PSD+CDS obteve 27,7% (910 mil votos) e agora o somatório dos dois partidos subiu cerca de 22 mil votos para 28% (932 mil votos). Ora, afigura-se razoável calcular o resultado do PSD em 2014 em cerca de 20% a 22%. Assim, é certo que o PSD ficou muito aquém das expectativas criadas com o empate técnico previsto nas sondagens imediatamente antes da fatídica votação da recuperação salarial dos professores. Mas não ocorreu uma quebra de eleitores do PSD nestas eleições em relação a 2014, apesar da cisão do Aliança.
O CRESCIMENTO DO BE É NOTÁVEL, MAS NÃO TANTO QUANTO SE PRETENDE - Se é verdade que o BE, entre 2014 e 2019, duplicou os votos obtidos, de 4,6% para 9,8% (mais 175 mil votos) e subiu de 1 para 2 Deputados, importa recordar que nas eleições legislativas precedentes tinha já conseguido 10,2%.
O RECUO DO PCP É MESMO MUITO SIGNIFICATIVO - Inversamente ao BE, o PCP tem um resultado muito negativo, pois perde quase metade do eleitorado, descendo de 12,7% para 6,9% (menos 188 mil eleitores).
O CDS TEVE UM RESULTADO INCIPIENTE - Com apenas 6,2% não conseguiu o objectivo de eleger o segundo Deputado e continua muito longe da proclamada ambição de liderar a oposição. Já foi a terceira força política e agora foi relegado para a quinta posição.
O PAN TEM MESMO UM RESULTADO MUITO PROMISSOR - Ao crescer 112 mil votos, de 1,7% para 5,1% o PAN consegue eleger pela primeira vez 1 Deputado. Em todas as últimas 5 sondagens publicadas, a intenção de voto no PAN foi sempre avaliada por defeito e daí a surpresa que provocou na noite eleitoral.
António d’Orey Capucho